25.7.09

Feiticeira



De que noite demorada
Ou de que breve manhã
Vieste tu, feiticeira
De nuvens deslumbrada

De que sonho feito mar
Ou de que mar não sonhado
Vieste tu, feiticeira
Aninhar-te ao meu lado

De que fogo renascido
Ou de que lume apagado
Vieste tu, feiticeira
Segredar-me ao ouvido

De que fontes de que águas
De que chão de que horizonte
De que neves de que fráguas
De que sedes de que montes
De que norte de que lida
De que deserto de morte
Vieste tu feiticeira
Inundar-me de vida.

Luis Represas

19.7.09

Sou como um rio


Eu sempre gostei de ti
eu sempre te conheci
nunca pensei que me deixasses só

eu sempre te procurei
eu nunca te abandonei
nunca pensei que me deixasses só

sou como um rio
que vive só para ti
correndo só para te ver
sou como um rio
que acaba ao pé de ti
foi sempre assim
gostar de ti

porquê que tudo acabou
o que é que para ti mudou
e agora tenho de viver sem ti

sou como um rio
que vive só para ti
correndo só para te ver
sou como um rio
que acaba ao pé de ti
foi sempre assim
gostar de ti

foi sempre assim
gostar de ti

Miguel Ângelo-Fernando Cunha ( Delfins)

12.7.09

Menina





(A uma menina)

Simpatia - é o sentimento
Que nasce num só momento,
Sincero, no coração;
São dois olhares acesos
Bem juntos, unidos, presos
Numa mágica atração.


Simpatia - são dois galhos
Banhados de bons orvalhos
Nas mangueiras do jardim;
Bem longe às vezes nascidos,
Mas que se juntam crescidos
E que se abraçam por fim.


São duas almas bem gêmeas
Que riem no mesmo riso,
Que choram nos mesmos ais;
São vozes de dois amantes,
Duas liras semelhantes,
Ou dois poemas iguais.


Simpatia - meu anjinho,
É o canto do passarinho,
É o doce aroma da flor;
São nuvens dum céu d'Agôsto,
É o que m'inspira teu rosto...
- Simpatia - é - quase amor!

Casimiro de Abreu

5.7.09

Where the wild roses grow





They call me The Wild Rose
But my name was Elisa Day
Why they call me it I do not know
For my name was Elisa Day

From the first day I saw her I knew she was the one
As she stared in my eyes and smiled
For her lips were the colour of the roses
They grew down the river, all bloody and wild

When he knocked on my door and entered the room
My trembling subsided in his sure embrace
He would be my first man, and with a careful hand
He wiped the tears that ran down my face


On the second day I brought her a flower
She was more beautiful than any woman I'd seen
I said, 'Do you know where the wild roses grow
So sweet and scarlet and free?'

On the second day he came with a single rose
Said: 'Will you give me your loss and your sorrow?'
I nodded my head, as I layed on the bed
He said, 'If I show you the roses will you follow?'


On the third day he took me to the river
He showed me the roses and we kissed
And the last thing I heard was a muttered word
As he stood smiling above me with a rock in his fist

On the last day I took her where the wild roses grow
And she lay on the bank, the wind light as a thief
As I kissed her goodbye, I said, 'All beauty must die'
And lent down and planted a rose between her teeth

Nick Cave